Por que desisti dos grupos de discussão de Design no Facebook

Uma breve reflexão sobre os grupos de discussão de Design na rede social das fotos de gatinho.

Fabricio Teixeira
UX Collective
Published in
4 min readDec 5, 2013

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Fiz as contas. Dos grupos “de discussão” que participo no Facebook, 70% dos posts são de alguém promovendo o seu próprio curso, ou o seu próprio blog, ou o seu próprio evento, ou algum conteúdo da empresa em que trabalha. Do restante, a maior parte são links. Alguns bons. E vejo que a mesma coisa acontece em grupos do mundo todo, não só do Brasil.

Quando algum participante inicia uma discussão legítima, ou ninguém comenta ou os comentários são rasos. Ou ainda os comentários são profundos, mas denunciam claramente a dissonância entre o que foi perguntado e o que está sendo respondido, já que é difícil avaliar todo o contexto de um problema de Design em poucas linhas de texto. Muitos deixam de comentar porque não vêem a participação no grupo como um investimento frutífero. E o participante que iniciou a discussão, não vendo resultados naquilo, depois de um tempo também para de usar o grupo para levantar novas pautas.

Há alguns dias conversei com um amigo sobre o assunto e comparamos rapidamente com grupos de discussão de desenvolvedores. Diferente dos designers, a impressão que temos é que esses profissionais são mais unidos e têm menos receio de compartilhar a solução com os outros. Obviamente, parte disso acontece porque a solução que eles estão buscando é mais exata, binária, menos subjetiva do que no universo do Design. Os desenvolvedores aprenderam com o passar dos anos que nesse tipo de discussão as pessoas estão lá para somar, para chegarem juntas a um resultado que ou funciona, ou não funciona. E eles copiam, colam, bifurcam, sem medo. Gamers também têm uma abordagem parecida.

Também olhamos para discussões que acontecem fora do Facebook. Listas de email, Google Groups, Quora, Medium, posts em blogs. Na maior parte dos casos as discussões são mais profundas do que nos grupos das redes sociais de fotos de gatinhos. Nos posts de blogs elas acabam sendo mais relevantes, possivelmente porque se a pessoa chegou até ali, leu até o fim do post e resolveu comentar é porque ela realmente tem algo a dizer sobre o assunto.

Isso sem entrar muito na discussão dos espaços públicos vs. espaços privados. Promover seu material em um espaço público (como um grupo) é bem diferente de fazer o mesmo em um espaço privado (seu perfil pessoal? sua fanpage?), onde as pessoas foram ativamente atrás do que você tem a dizer. Mas os grupos de discussão parecem preencher uma lacuna das redes sociais onde é possível divulgar seu conteúdo para um público selecionado sem precisar pagar caro por isso.

No fim da conversa concluímos que o erro está na gente mesmo, em pensar que esses grupos são “grupos de discussão”. Ninguém prometeu que seria. Talvez o nome um dia mude para “grupos de divulgação” ou simplesmente “grupos de interesse”. E obviamente esse tipo de grupo também tem o seu valor, já que a troca de links que acontece ali permite que mais pessoas tenham acesso a mais conteúdo, o que é uma experiência legitimamente válida. Isso sem contar o trabalho de organizações como IxDA e UXPA que fazem um trabalho seríssimo ao promoverem e divulgarem encontros e palestras que tornam a disciplina acessível a mais gente.

Particularmente, em mim fica aquele gosto azedo na boca, de quem pensa que a internet poderia ser usada para mergulhar com mais profundidade em determinados assuntos. Em especial naquelas disciplinas onde os participantes dominam tão bem as ferramentas digitais disponíveis publicamente, como é o caso do design digital. O mesmo gosto azedo de saber que a wikipedia está minguando, e que o Branch não foi o sucesso todo que esperavam que fosse. E talvez seja só um sintoma das várias transformações pela qual a web passa, ano após ano. Há algum tempo o Google anunciou publicamente o Helpouts, uma série de Hangouts onde você paga alguns dólares em troca de alguns minutos de consultoria com um especialista sobre qualquer assunto. Pagando, por que não? A gente é que espera demais, a gente é que quer democratizar tudo. Na vida real não é assim que as coisas funcionam.

Quando aos grupos do Facebook, saímos de alguns, removemos das nossas barras de favoritos, e voltamos lá de vez em quando para ver se a regra do jogo mudou — ou somente para clicar em alguns links aleatoriamente. Enquanto isso, as boas e profundas discussões de design continuam acontecendo em fóruns fechados, nos encontros presenciais das associações e nas conversas com o colega de trabalho que senta na mesa ao lado. Ou nas discussões privadas, como essa que tive com meu amigo. Como articulou brilhantemente Brad Frost em um evento recente, 90% is bullshit. Haja peneira. Haja filtro.

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